Ratos na Europa

"Bichos, saiam dos lixos. (...) Ratos, entrem nos sapatos. Do cidadão civilizado."

Quando a gente viaja, deve estar preparado para enfrentar uma série de imprevistos e surpresas, pequenas ou grandes. Para isso, é importante - como já salientei aqui - fazer um planejamento, além de possuir espírito de turista (ou seja, diante de um imprevisto, adotar as medidas que devem ser adotadas e seguir em frente).
Muitos desses imprevistos tornam-se até engraçados. Quem imaginaria, por exemplo, deparar-se com ratos em alguns cantos da Europa? Pois foi o que aconteceu comigo e com um amigo em abril deste ano. Tudo começou em Lisboa, nossa primeira parada. Acabávamos de cruzar uma passarela de acesso à região da Torre de Belém quando deparamo-nos com o sujeito lá, esticado. Estava morto, é verdade; ainda assim foi um tanto repugnante ver aquele rato ali.
Por puro preconceito, expressamos um injusto "tinha que ser em Portugal". O destino (ou melhor, o roteiro) se encarregaria de provar aquela injustiça com nossos patrícios. Estávamos voltando para o hotel em Bruxelas quando, na calçada, estava lá outro sujeito, bem grande, também esticado, inerte. Outro rato morto! Na Bélgica...
Amsterdã, porém, é que nos reservava a maior surpresa. Era fim da tarde de domingo e estávamos numa área repleta de bares - que, naquela altura, já se mostravam esvaziados (descobrimos depois que as pessoas vão embora após os jogos, que acabam entre 18h e 19h). Olhávamos em volta e simplesmente não conseguíamos imaginar um lugar para tomar uma cerveja e comer algo. Depois de muita indecisão, optamos pelo que parecia ser o barzinho mais "arrumadinho". Ele carregava a marca de uma famosa cerveja.
Entramos, pedimos a bebida e dois lanches. Eis que, quando começamos a comer, o amigo que me acompanhava disparou: "olha, tem um rato ali!". Obviamente não acreditei. Não que tivesse duvidado das palavras dele (o Cristiano não tem o costume de mentir). É que eu simplesmente não conseguia conceber a idéia de ter um rato andando num restaurante em Amsterdã. Continuei comendo meu lanche "hot" quando, de repente, um rato passou perto da mesa. Era pequeno, tipo camundongo, mas era um rato. E desta vez vivo! Começamos a rir. Não conseguíamos ter outra reação diante da situação surreal: jantando num bar em Amsterdã com um rato andando para lá e para cá.
Foi aí que começamos a reparar na sujeira. O chão era antigo, tinha um assoalho de madeira. Na parede, havia uma entrada no rodapé que permitia ao rato esconder-se tranqüilamente e sair a cada pedaço de comida que caía ao chão. Meu amigo ficou exaltado. "Me dá a máquina fotográfica!", pediu. E disparou a bater fotos do tal rodapé na torcida para que rato aparecesse.
Minutos depois, lá estava ele, o rato, cruzando novamente aquele assoalho. Na mesa ao lado, quatro mulheres - já alertadas pela nossa agitação - perguntaram: "Is it a mouse?". Na hora, confesso que pensei: "meu Deus, vamos responder que sim e vai ser uma gritaria aqui...". Que nada. Confirmamos que era um rato e até brinquei: "Yes, it's a mouse. May be it's Mickey Mouse". E elas simplesmente seguiram comendo. Como nós.
O mais surreal, porém, ainda estava por vir. Eis que um garçom passou ao nosso lado e meu amigo não hesitou em abordá-lo: "Mr., there is a mouse here". O garçom parou, olhou, esboçou um sorriso e respondeu com toda tranqüilidade: "A mouse? No. There is a lot of mouses here..." Simplesmente inacreditável. Após um breve silêncio, pasmos ante aquela afirmação, rimos e decidimos acabar de comer nossos lanches (no meu caso até quando a pimenta permitiu). Claro, com a companhia de nosso amigo rato, que insistia em aparecer de vez em quando.

"Bichos escrotos, saiam dos esgotos, venham enfeitar meu lar, meu jantar, meu nobre paladar".

Em tempo: para quem ficou curioso, não, não conseguimos fotografar o rato. O máximo que flagramos foi o chão.

A conquista dos espaços públicos



Uma das situações que mais me chamam a atenção sempre que viajo é a utilização do espaço público, a forma como a comunidade lida com o coletivo. Pode parecer besteira, mas este detalhe é revelador do grau de educação e cidadania de um determinado povo. Para um brasileiro, este detalhe é ainda mais interessante porque permite que confrontemos a realidade exterior com a nossa - marcada via de regra pela pouca valorização do espaço público.
Um aspecto que chama minha atenção é o valor que se dá a um gramado. Isto mesmo! No Brasil, temos a mania de querer enfeitar tudo para que um determinado espaço tenha valor. Pois em vários países basta um gramado, um amplo e verdejante gramado, para que nele se instale a vida. São famílias fazendo piquenique, jovens e adultos lendo solitariamente ou ouvindo música (ou as duas coisas ao mesmo tempo), pais brincando com seus filhos, enfim, vida. Não são necessárias grandes estruturas, nada. Só um gramado. E, claro, a plena noção de que se trata de um espaço público, de convívio público. Este é o segredo.
Sei que parece pouco, mas não é. Só quem vivencia esta experiência sabe do que estou falando. Grandes gramados, grandes espaços públicos, valorizam as cidades, dão um ar de liberdade, incentivam a cidadania, a vida coletiva. Grandes parques em grandes capitais, como o Hyde Park, em Londres, são essencialmente extensos gramados (claro que há monumentos, estou falando da terra da rainha, mas ainda assim o que prevalece é o aparente vazio de um manto verde).
No Brasil, algo semelhante ocorre com as praias, mas essa comparação fica comprometida por se restringir às cidades litorâneas. As cidades brasileiras precisam de muito mais "Ibirapueras". De início, a ocupação dos espaços pode até ser pouca e a falta de cuidado prevalecer, mas é preciso dar o primeiro passo. É preciso educar a sociedade a valorizar os espaços de convívio público. Para isso, antes de mais nada, é preciso que nos enxerguemos como comunidade. É preciso que saibamos respeitar o espaço alheio. É preciso derrubar os muros (veja nas mensagens desta postagem texto que trata dos muros que cercam a USP, em São Paulo).
Nossas cidades nunca serão definitivamente cidades enquanto os espaços públicos não tiverem valor. E para que tenham valor, não é preciso investir muito. Basta um gramado.
PS: na seqüência das fotos, grandes áreas verdes em Amsterdã (Holanda), Londres (Inglaterra) e Lisboa (Portugal).

O Canadá, por Paulo Silas

Esta postagem foi feita por Paulo Silas, um colega jornalista que esteve recentemente no Canadá. Acho que vale a pena compartilhá-la (com a devida autorização do autor, claro).

"O Canadá é um país maravilhoso. Como descrever um território em que a taxa de alfabetização é de 99%. Com 33 milhões de habitantes, o jornal pago de maior circulação tem uma tiragem diária de mais de 400 mil exemplares. Um número surpreendente e muito distante de ser atingido pelo Brasil, que conta com uma população de 189 milhões de pessoas, onde a 'Folha de S. Paulo', considerado o jornal brasileiro pago de maior circulação, possui uma tiragem diária de 310 mil exemplares. É admirável observar pessoas lendo jornais nos lugares mais atípicos – pelo menos para nós -, como McDonalds, Johnys Rockets, etc.
A região de Quebéc nos remete às vilas típicas da França. Uma bela cidade, com um povo amável. Já Toronto conta com uma pincelada do Reino Unido, principalmente na língua inglesa, onde Center vira Centre.
Também não há como não falar sobre a sensação de liberdade, que provavelmente está distante dos brasileiros. Não há valor que pague poder caminhar nas madrugadas geladas e seguras do Canadá. Niagara Falls, divisa dos Estados Unidos, também é fantástica. As cataratas são fantásticas e uma parada nas casas de vinagem da região torna-se obrigatória."

Doces lembrancinhas


Dizem que uma coleção, qualquer tipo de coleção, prende-nos ao passado. Faz sentido. Afinal, só é possível colecionar coisas que existiram, que têm alguma história, algum significado. Pois eu tenho fascínio por souvenir. E os coleciono. Tenho consciência de que me faz bem esta "prisão" ao passado, pois cada objeto traz à lembrança sempre uma viagem - ou seja, momentos agradáveis. Ou quando são presentes de amigos, trazem à lembrança pessoas queridas, que lembraram de mim ainda que em terras distantes.
Em casa, tenho um canto específico para colocar os souvenires (ou seriam souvenirs?). São três prateleiras no escritório, repletas de bugigangas. Muitas bugigangas, desde conchas de Porto Seguro até uma Torre Eiffel em miniatura ou um Smurf de Bruxelas. Sinto prazer em olhar para cada um daqueles objetos, alguns dos quais me custaram muito esforço para fazê-los chegar até onde estão, seja porque são grandes, seja porque são quebráveis e exigiram cuidado no transporte.
Não sei quem inventou o souvenir, popularmente chamado de lembrancinha. Pensando bem, o nome popular é mais adequado. Afinal, é isto mesmo que o objeto se propõe a ser, uma lembrancinha. De uma viagem própria ou de um amigo. Alguns têm uma ligação direta com o lugar de onde vieram. A Torre Eiffel em miniatura é um exemplo. Outros, contudo, nada dizem do lugar, mas nos fazem lembrar dele. É o caso da minha lambretinha vinda de Madrid.
São características do souvenir ter um preço acessível e ser encontrado aos montes (este, aliás, é um charme desses objetos). Claro que quando viajo sempre procuro algo diferente, e até resisti recentemente "àquilo que todo mundo tem", mas me entreguei a esta realidade. Pois é justamente a sensação de fazer parte de um determinado grupo, como o dos que foram para Paris e trouxeram uma Torre Eiffel em miniatura, uma das características dessas lembrancinhas.
Ainda não consegui mostrar minha coleção de lembrancinhas aos amigos. Por enquanto, este canto de bugigangas é só meu. Esta postagem ajudará a resolver em parte esta falha. Aos amigos, porém, convido-os para conhecer meus souvenires - e suas histórias, claro (cada um guarda uma história). E também os convido a me ajudar na tarefa de abarrotar este canto de coisas. Para isso, é só lembrar de mim em suas viagens!

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