Ao contrário do premiado
publicitário, eu admito: não tenho aptidão para “gourmand”. Por isso, a
gastronomia não é prioridade nas minhas viagens. Sou “caipira” e não troco um
prato de arroz com feijão por qualquer uma das famosas guloseimas mundiais,
como frutos do mar e patê de fígado de ganso.
Como dificilmente encontro
nosso prato do dia-a-dia em outros países, recorro mesmo aos “fast-food” no
almoço, para ganhar tempo, e privilegio o jantar buscando algo mais
substancioso (normalmente comida italiana, que aprecio). Portanto, ao contrário
de Olivetto, não tenho histórias saborosas para contar, mas tenho relatos que
envolvem o sagrado momento da refeição.
No mais recente giro pelos
EUA, já não aguentava mais variar o cardápio entre os grandes bifes (saborosos,
é verdade) com batata frita, purê ou legumes e os grandes lanches com
hambúrgueres (saborosos, é verdade) e batata frita. Estas são as comidas típicas
norte-americanas. Somadas ao café da manhã com bacon, omelete ou ovos mexidos,
batata frita, hambúrguer, waffle e panqueca doce, tem-se a exata equação da
obesidade. É por isto que a questão do peso é um problema nacional por lá.
As carnes consumidas nos EUA são,
é verdade, fantásticas - principalmente o angus, tipo nobre de origem escocesa.
Acredite: na consistência e no sabor, são inigualáveis, muito superiores à
melhor carne brasileira (explicaram-me certa vez que nosso rebanho ainda não
tem as melhores raças). Contudo, até toda esta qualidade cansa.
Um certo dia, na Filadélfia, entrei
no famoso Reading Terminal Market, um mercado onde se encontra um pouco de
tudo, de produtos típicos da fazenda de Lancaster County até peixes e frutas diversos.
Andava de um lado para o outro, entre açougues e salumerias, até que comentei –
despretensiosamente - com o amigo que me acompanhava: “Uhm, um lanche de
mortadela até que cairia bem...”. Um pedido, reconheci na ocasião, difícil de
se realizar. Não impossível... Bastou olhar para o lado e ali estava ele. Não
acreditei quando vi: um lanche de mortadela! Com tempero forte, é verdade,
estilo da culinária crioula, típica do sul dos EUA, mas ainda assim um lanche
de mortadela – para lembrar um pouco do Brasil. Não titubeamos: pedimos duas
muffaletas (este é o nome do dito cujo) por meros US$ 5,95. Foi nosso almoço.
Um saboroso e típico lanche original de Nova Orleans na Filadélfia.
Não bastasse o cardápio
“caloroso”, os norte-americanos comem sem parar. Claro, isto é um exagero do
ponto de vista individual. O que pretendo dizer é: seja qual for a hora do dia,
haverá mesas lotadas, principalmente nos centros de compra. É difícil saber se
estão almoçando, tomando café ou jantando porque sempre o menu inclui
hambúrgueres e afins.
E para quem pensa que a
principal rede de “fast-food” por lá é o McDonald´s, engana-se. Presente mesmo
em cada esquina está o Subway. Claro, sem contar a preferência nacional pelo
Starbucks, a famosa rede de cafés, com unidades espalhadas por todo o país
oferecendo seus copos gigantescos de um café de gosto duvidoso para os brasileiros.
E tem ainda o Dunkin Donuts e suas rosquinhas com coberturas diversas e os
famosos “cup cakes”, coloridos e de sabor duvidoso dependendo do lugar onde são
comprados.
Em meio a esse mundaréu de
marcas e redes, encontrar às vezes algo para “beliscar” não é fácil. No Canadá,
a tarde já se aproximava do fim, o frio se anunciava e a fome apertava sem que
algo substancial surgisse para comer. Estávamos – o amigo e eu – em
Niagara-on-the-lake, pequena cidade (quase um vilarejo) perto de Niagara Falls.
A cidadezinha foi capital do país ainda colônia, entre 1792 e 1796, e é um dos
poucos lugares no país que preservam quase na integridade a arquitetura
colonial, o que confere à localidade um charme e um colorido especiais.
É justamente por isso que
estava difícil encontrar algo razoável para comer. Havia bons espaços para se
alimentar, ao menos na aparência. Espaços que reproduziam o clima peculiar do
lugar (ou se integravam a ele com perfeição). Não tínhamos, porém, tempo para
uma refeição com tranquilidade e qualidade, como a cidade exigia. Tampouco
havia por ali os “fast-food”.
Andávamos um tanto apressadamente
até que avistei uma padaria e sorveteria. Taylors chamava o lugar. Em meio aos
salgados, uma “chicken pie” – ou simplesmente empada. E como estava boa aquela
empada! Quentinha, saborosa... (quando a fome é muita, até uma simples empada
de frango ganha status de prato de restaurante estrelado do “Michelin” – ou, se
preferir, de indicação do Olivetto). Acrescentei ainda como sobremesa um
delicioso cookie de chocolate.
Exagerei, é verdade, mas a
lembrança da empada que nos serviu de almoço às quatro e meia da tarde na
charmosa e encantadora Niagara-on-the-lake ficou na memória. Como uma daquelas
singelas recordações de viagem...