Templos olímpicos

Sempre que uma cidade é escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de Verão, como o Rio de Janeiro, um dos temas mais abordados é o tal legado aos cidadãos. Um exemplo comumente citado é Barcelona, que revitalizou uma área costeira para sediar as Olimpíadas de 1992. Dos jogos da era moderna, desde Atenas-1896, apenas mais recentemente - nos últimos 40 anos - é que se fala em parques olímpicos. Antes, os jogos costumavam ocupar as estruturas já existentes nas cidades, de modo que é difícil ver em Paris ou Amsterdã, por exemplo, resquícios das olimpíadas que sediaram na primeira metade do século 20.
Nas minhas viagens mundo afora, tive a oportunidade de conhecer três dos parques mais recentes. Munique 1972, Montreal 1976 e Atlanta 1996. Sem dúvida, o de Atlanta é o mais integrado à cidade; o de Munique o mais verde; e o de Montreal o menos preservado (embora possua boas estruturas esportivas, como um ginásio e um estádio, e uma extensa área verde). Em Munique e Montreal, os parques ficam um pouco mais afastados da área central; já em Atlanta, é o coração da cidade, ao redor do qual se situam as principais atrações turísticas.
Quando fui ao parque olímpico de Munique, era o final de uma tarde cinzenta. Havia várias pessoas no local, mas nada comparado à festa que vi em Atlanta no último dia 4 de abril, uma quarta-feira. O local foi ocupado por milhares de pessoas, centenas de famílias que faziam piquenique. Crianças e jovens se refrescavam na fonte sobre os anéis olímpicos e muitos curtiam shows que aconteciam no local. Confesso que não sei se a festa era rotineira ou se estava assistindo a algum evento especial - nas vezes anteriores em que cruzei o parque, a frequência de pessoas era bem baixa.
O parque olímpico de Atlanta é bonito e preservado (há uma distância de pelo menos 20 anos entre ele e os demais que conheci). Mistura natureza e arquitetura com harmonia e perfeição. Possui estruturas de lazer e monumentos para louvar o chamado espírito olímpico, os países que participaram dos jogos e os atletas que conquistaram medalhas. Ao lado ficam o ginásio (Philips Arena) e o estádio (Georgia Dome) usados nas competições – hoje sedes do time de basquete Atlanta Hawks e do time de futebol americano Atlanta Falcons (e não só deles, registre-se). Há estações de metrô que saem praticamente dentro das duas praças esportivas.








Em Munique, o grande destaque é, sem dúvida, o verde. Moradores e turistas vão ao local para descansar em meio à natureza – muito bem cuidada, aliás. Há, naturalmente, estruturas esportivas, como as piscinas olímpicas que hoje são usadas pela população, mas é mesmo o contato com o meio ambiente que chama a atenção. No lago, barquinhos, patos, cisnes e gansos dividem espaço com a comunidade.
Perto dos apartamentos que formavam a vila olímpica, um pequeno monumento em concreto lembra um fato que entrou para a história do esporte mundial: o ataque de terroristas palestinos à delegação de Israel. O episódio - retratado no cinema (“Munique”, lançado em 1995, com direção de Steven Spielberg) – resultou na morte de 17 pessoas, sendo 11 membros da delegação israelense (seis técnicos e cinco atletas), um policial alemão e cinco membros do grupo Setembro Negro, que assumiu a autoria do atentado.
Confesso que emoções estranhas vieram à tona ao me deparar com esse pedaço lamentável da história olímpica, que completa 40 anos em 2012 (aliás, Israel solicitou recentemente ao Comitê Olímpico Internacional que uma homenagem aos mortos naquele episódio seja feita durante as Olimpíadas de Londres, que começam em julho). Uma sensação de pertencer à história e, ao mesmo tempo, de repulsa e tristeza tomou-me o espírito.



Visitei o parque de Montreal numa manhã nublada e fria de domingo. O local estava vazio, com exceção de alguns funcionários que trabalhavam na desmontagem da estrutura de um evento ocorrido um dia antes e de uma exposição de flores que acontecia por ali. A área propriamente está longe de ser agradável como as de Atlanta e Munique. Tem-se uma estrutura basicamente em concreto, com uma redoma – o Biodome, onde funciona uma espécie de museu da ecologia e um “insectarium” - e as estruturas esportivas próximas (o estádio olímpico, piscinas cobertas e um ginásio).
No local, ainda tremulam as bandeiras dos países que participaram dos jogos.
Ao lado existe uma extensa área verde (bem maior que as de Atlanta e Munique, mas não tão integrada ao parque como nas demais), onde funciona o jardim botânico de Montreal, o segundo maior do mundo em extensão.
Confesso que o clima frio e chuvoso daquele domingo desestimulou a visita às instalações do parque e também ao jardim próximo, que devem ser interessantes. Seja como for, espero que o parque seja mais utilizado pela população do que na ocasião em que o conheci. Eu, pelo jeito, terei que voltar a Montreal...



  

  

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