Cerveja também é cultura!

Para muitas pessoas, a gastronomia é uma das melhores formas de conhecer a cultura de um determinado lugar. E elas têm razão. Eu confesso que não sou um apreciador de comidas estrangeiras – gosto mesmo do tradicional arroz com feijão brasileiro. Sendo assim, quando viajo, restrinjo o cardápio aos famosos “fast-food” e um ou outro prato local (se não tiver nada de muito desconhecido entre os ingredientes).
Procuro, portanto, conhecer a cultura local de outra forma: pelas cervejas. No mais recente giro pelos Estados Unidos e Canadá, em abril, descobri novos nomes e novos sabores muito além da conhecida Budweiser – quase um patrimônio norte-americano, embora agora pertencente a um conglomerado belgo-brasileiro.
Tudo começou na segunda noite da viagem, em Atlanta (Georgia). Estava no famoso Ted´s Montana Grill quando fui apresentado a uma tal Samuel Adams - “Sam” para os íntimos. “Esta é a cerveja que o americano toma. Meu pai, quando vem me visitar, só bebe esta aqui”, disse um brasileiro fixado há sete anos na cidade que sediou as Olimpíadas de 1996. “Muito prazer Sam!”, respondi em pensamento.




Foi paixão à primeira vista – ou ao primeiro gole. A “Sam” é forte, encorpada, sem parecer com aquelas cervejas de trigo alemãs e belgas. Não sou especialista em cerveja, só um apreciador. Portanto, não posso descrever a Samuel Adams em detalhes, embora tenha tido a oportunidade de conhecer o passo-a-passo de sua fabricação e até experimentado os produtos que a compõem – o malte, a cevada... Foi em Boston (Massachusetts), onde fica a fábrica original da “Sam” (hoje com uma produção pequena nesse lugar em relação ao total distribuído no país).
Aliás, para quem curte cerveja, a visita é imperdível. De graça, divertida e o turista ainda ganha quase uma hora de degustação à vontade e um copo com a logomarca da “Sam”. A equipe da cervejaria é bastante receptiva e, percebe-se, aprecia o produto e o trabalho - pudera, unir o ofício ao lazer não é para qualquer um.
Em tempo: Samuel Adams foi governador de Massachusetts e representante do estado (na época uma colônia) no processo de independência dos EUA. É, portanto, um dos famosos “founding fathers” como se diz por lá - os “pais fundadores”. O nome é dado aos políticos que assinaram a Declaração de Independência do país em 1776.








Ainda em Boston, é possível visitar outra cervejaria, a Harpoon. Quando lá estive com um amigo, não foi possível visitar a fábrica – bem maior do que a da Samuel Adams. A degustação acontece diretamente na lojinha e é mais controlada, embora a diversidade de estilos de cerveja seja maior. A UFO (que possui variações) é um dos destaques da marca. A branca é bem saborosa. Ah, na Harpoon o copo tem que ser devolvido.




Na Filadélfia (Pennsylvania), também foi possível apreciar boas cervejas. Após caminhar de um lado para outro na 2nd. Street, escolhemos um pub lotado – o Khyber Pass Pub. Algo de bom devia haver ali. E havia: um cardápio especial e diferenciado, com nada menos que 22 cervejas de vários lugares do país (20 delas; duas eram estrangeiras, da Alemanha e Bélgica) - fora as que são vendidas em garrafas. Tinha ainda outras cinco na lista do “Coming Soon”. O cardápio não trazia só o nome da bebida: tinha também a origem (cidade e estado), tamanho do copo, teor alcoólico, estilo e descrição dos ingredientes, sabor e aroma.
Experimentamos tantas quantas foi possível: AleSmith Anvil ESB, de San Diego (CA); Clown Shoes Clementine, de Ipswich (MA); Left Hand Milk Stout (Nitro), de Longmont (CO); Franziskaner Hefe Weiss, de Munique (Alemanha); Philadelphia Brewing Kenzinger, de Philly (PA) e Great Lakes Dortmunder Gold, de Cleveland (OH). Pedíamos aleatoriamente, com base em sugestões dos garçons ou simplesmente apontando o dedo para o cardápio. O que viesse estava bom. Combinamos de cada um escolher uma diferente, assim poderíamos testar o maior número possível de estilos e sabores.
Naturalmente, gostamos mais de umas que de outras, repetimos os sabores preferidos e saímos de lá querendo mais (e sem poder ter porque o serviço de bar acabava pontualmente às 2h e já eram 2h15). Voltamos a pé para o hotel, longos dez quarteirões até a 12nd. Street, mais três quarteirões à direita até a Race Street. Satisfeitos por fazer, em algumas poucas horas, um giro pelo mundo da cerveja dos EUA.


No Canadá, dois encontros com um novo tipo de cerveja. Em Toronto, à procura de um bom lugar para jantar, deparei-me com uma microcervejaria ao lado da Dundas Square, a Times Square da cidade. “The 3 Brewers” é o nome do lugar. Naquela noite de 20 de abril, o local estava lotado. E muito animado, repleto de gente elegante e bonita!
A decoração é típica – você se sente dentro de uma cervejaria (e de fato está!). O cardápio é inusitado, imitando um jornal. Aliás, ele informa por meio de bolinhas com a cor da cerveja qual tipo de bebida combina com cada comida. O menu é diverso. Optamos – meu amigo e eu – por pedir um conjunto com seis cervejas da casa, cada uma de um tipo. É uma espécie de degustador, com copos menores.
Sem dúvida um lugar diferenciado, tanto pela qualidade da comida quanto pelo atendimento e pelos diferenciais do formato e da apresentação do cardápio.





Para minha surpresa, reencontramos a cervejaria (agora recomendada pela atendente do hotel) em Montreal. Lá, ela se chama “Les 3 Brasseurs” (a cidade fica na parte francesa do Canadá). Dessa vez, abrimos mão do conjunto de cervejas e fomos direto ao sabor que mais apreciamos na ocasião anterior. A bebida embalou a jornada, que incluiu assistir pela TV ao jogo de hóquei do time local.
Como em Toronto, a cervejaria estava lotada. Mais uma vez, gente bonita e animada. Saímos satisfeitos e felizes. Graças aos “três cervejeiros” canadenses. Será que eles eram amigos de Sam?



* As fotos são minhas e de Carlos Giannoni de Araujo

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