Por circunstâncias da vida, num intervalo de dois anos e
meio, estive duas vezes em Atlanta – que não está no topo de nenhuma lista de
roteiros, embora segundo o Wikipédia seja o 13º destino nos Estados Unidos para
turistas estrangeiros.
Na primeira vez, escolhi a cidade quase que apontando o dedo
no mapa. Planejei fazer um giro pela Costa Leste, descendo de Nova York até
Miami, mas não queria pegar avião. A alternativa, então, foi recorrer à
Greyhound – a mais famosa e importante empresa de transporte rodoviário dos
EUA. Como o trajeto seria um tanto longo, tive que escolher pontos de parada
pelo caminho. E assim a capital do estado da Georgia entrou em meu roteiro.
Fiquei dois dias na cidade, tempo mais do que suficiente
para conhecer suas principais atrações, concentradas ao redor do parque olímpico (Atlanta sediou as Olimpíadas de 1996). Lá estão o museu da Coca-Cola,
o Georgia Aquarium (tido como o maior aquário indoor do mundo) e o CNN Center.
A estadia foi suficiente também para conhecer o Jardim Botânico, o Underground
(um shopping popular subterrâneo) e até para assistir a uma partida dos Braves no
Turner Field.
Sempre que visito um lugar, saio com a sensação (na verdade
um desejo) de que um dia voltarei. No caso de Atlanta, porém, não imaginava que
seria tão rápido – afinal, a cidade está longe de ter atrações imperdíveis que
mereçam ser visitadas várias vezes. Contudo, o destino se encarregou de me
fazer preparar as malas. Tudo se deveu a três fatores: 1) à conquista de um
amigo; 2) à amizade; e 3) ao sonho.
Em 2011, o jornalista Carlos Giannoni de Araujo venceu o 7º
concurso de jornalismo para universitários promovido pela rede de televisão
CNN. O prêmio: conhecer a sede da emissora em Atlanta. Tão logo ele
soube do resultado, enviou-me uma mensagem pelo celular convidando para
acompanhá-lo na viagem. Àquela altura, disse-lhe que tudo era ainda um sonho
distante para mim tamanha a quantidade de obstáculos (pessoais e profissionais)
a superar. Mesmo com dificuldades, os desafios foram sendo superados um a um. E
em 1º dia abril (sim, o dia da mentira!) lá estávamos num avião rumo a...
Atlanta.
Naturalmente, em termos de atrações turísticas, a segunda
visita à cidade não me trouxe surpresas (exceção à CNN, mas esta é outra parte
da história). Mesmo assim, senti uma emoção diferente. Claro que a gente nunca
volta a um lugar da mesma forma – porque não somos mais os mesmos nem o lugar é
mais o mesmo. Contudo, a emoção advinha de poder compartilhar uma aventura com
um amigo que sequer sonhara com aquilo.
Lembro-me perfeitamente da chegada a Atlanta. Eram cerca de
6h. Tão logo o avião tocou o solo, fiz questão de saudar-lhe: “Bem-vindo aos
EUA! Começa aqui um sonho!”. A partir daí, uma sequência de descobertas. O
aeroporto gigantesco, a língua diferente, gente diferente (inclusive soldados
voltando da guerra), realidade diferente, cultura diferente, carros, pistas,
tudo era novo. No hotel, ao abrir a janela, uma bonita vista da cidade. O sol
nascendo, o parque olímpico e os prédios se apresentando a um novo dia. Um
belíssimo “skyline”. À noite, banhada pela luz da lua, a paisagem era tão
espetacular quanto fora ao amanhecer.
Do ponto de vista turístico, Atlanta - fundada em 1837 - não
tem nada de tão especial. Do ponto de vista político e econômico, simboliza a ascensão
sulista - região massacrada no século 19 durante a Guerra Civil que opôs o
norte desenvolvido ao sul latifundiário e escravocrata. Aliás, ela se tornou
capital justamente após a guerra. Lembranças da época estão em vários pontos,
em nomes de ruas e avenidas, museus e antigos campos de batalha.
Também chama a atenção a enorme quantidade de moradores
afro-descendentes, uma herança dos tempos remotos.
Aliás, a Atlanta que se conhece como turista está longe de
parecer efetivamente uma cidade. Talvez porque a parte turística se concentre
numa pequena área ou efetivamente porque as residências estão espalhadas pelos
subúrbios (que não possuem o aspecto negativo que se atribui à palavra no
Brasil). O fato é que a capital da Georgia, na região central, às vezes parece
um cenário. As marcas do seu desenvolvimento estão todas ali, à vista; já as da
sua gente são mais difíceis de encontrar.
Ao longo das últimas décadas, Atlanta se internacionalizou. Hoje,
ela sedia grandes corporações, como Coca-Cola, CNN, AT&T e Delta Airlines
(que tem no aeroporto internacional o seu “hub”, a central de distribuição de
voos de uma companhia aérea. O aeroporto, aliás, é o mais movimentado do mundo
em número de passageiros, com cerca de cem milhões de pessoas por ano).
Nada, porém, valeu mais do que ver o sol nascendo e se pondo
em meio aos prédios. O brilho dourado delineando o início e o fim de mais um
dia. A imagem que se eterniza na mente e no coração. Principalmente quando ela
está ligada a um sonho. Principalmente quando ela é resultado de uma amizade.
Não sei bem a razão, mas deixei Atlanta com a sensação de que um dia voltarei. Quem
sabe não será em breve?
* As fotos são minhas e do Carlos
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