Desde que o Estado moderno nasceu (ou foi inventado),
instituições são essenciais para reforçar a unidade e o caráter democrático de
uma sociedade. São elas, afinal, que simbolizam e formalizam a existência do
Estado. Neste sentido, poucos lugares representam tão bem a nova Alemanha surgida
após a reunificação do que o Reichstag - a sede do Parlamento (Bundestag).
O prédio merece destaque tanto por seu valor político e
histórico quanto pelo que representa do ponto de vista arquitetônico, a união
harmônica, visionária e perfeita entre tradição e modernidade, representadas
pelos traços clássicos e a cúpula translúcida futurista.
Inaugurado em 5 de dezembro de 1894 após dez anos de obras,
o Reichstag – assinado pelo arquiteto Paul Wallot – fica a poucos metros do
famoso Portão de Brandemburgo. Uma das antigas portas da cidade, foi reconstruído
no final do século 18 e virou símbolo da reunificação alemã, já que foi cenário
da festa pós-derrubada do Muro de Berlim. Ambos formam, a uma curta distância,
um conjunto especial do “novo” país surgido após décadas de separação provocada
pela Guerra Fria.
A primeira sessão do Bundestag da Alemanha unida no Reichstag
foi em 4 de outubro de 1990. Meses depois, em 20 de junho de 1991, o Parlamento
decidiu em Bonn (capital da então Alemanha Ocidental), por 338 votos a favor e
320 contra (o que indica não ter sido uma decisão fácil), transferir sua sede
para o Reichstag na eterna capital de todos os alemães, Berlim. A remodelação
do edifício ficou a cargo do arquiteto Norman Foster e foi oficialmente
entregue em 19 de abril de 1999.
O Bundestag é o único órgão do Estado cujos membros são
eleitos diretamente pelo povo para mandatos de quatro anos. (O chefe de
governo, chamado de chanceler, é escolhido de modo indireto pelos 620 parlamentares;
já os 69 membros do Bundesrat, o Conselho Federal formado por representantes
dos 16 estados, são escolhidos pelos governos estaduais e muitas vezes são os
próprios governadores.)
O Parlamento é o único órgão com poder de criar leis,
válidas para todo o país. Ele funciona como o Congresso brasileiro: as
propostas passam por vários grupos antes de serem votadas em plenário - eram 22
comissões permanentes na 17ª legislatura. Também é responsabilidade dos
deputados participar da escolha do presidente (chefe de Estado), escolher metade
dos magistrados da Corte Federal, presidente e vice do Tribunal Federal de
Contas, além de fiscalizar o governo. Dos eleitos em 2009 para a 17ª
legislatura, mais de 20% eram juristas.
Para os três milhões de turistas que, segundo o Bundestag,
visitam sua sede todos os anos, a cúpula é a atração mais reluzente – em todos
os sentidos. Com 40 metros de diâmetro, oferece uma vista panorâmica da capital
a 47 metros de altura. De lá é possível ver, por exemplo, a estação Friedrichstrasse
(aberta em 1882, serviu como ligação entre os lados ocidental e oriental da
cidade entre 1961 e 90 – na foto, é o prédio na segunda ponte que cruza o rio
Spree), o Carillon (quarta maior torre de sinos do mundo, erguida em 1987 no
aniversário de 750 anos de Berlim), a Casa da Cultura Mundial (de 1957, um
presente do governo norte-americano, é também conhecida como “ostra grávida” em
razão de seu formato) e a Filarmonic Hall, casa da renomada Orquestra Filarmônica
de Berlim.
Ao lado do prédio principal ficam os edifícios
complementares, como o Paul Löbe, onde funcionam os comitês do Congresso. Ali
também fica a Chancelaria Federal, algo como o Palácio do Planalto, onde
trabalha o chanceler.
E não é só a vista que merece atenção. A própria estrutura
da cúpula é uma atração. Em seu interior destaca-se um equipamento conhecido
como trompa em razão do seu formato. Ele é coberto por 360 espelhos que
permitem projetar luz natural até o salão nobre. Possui um sistema que aproveita
o calor para calefação. No telhado, 300 metros de painéis solares garantem 50%
da energia do prédio. Provas de que a modernidade da cúpula – e, por consequência,
do prédio - não se restringe ao estilo. Mostra de que o Reichstag é um bom resumo
da sociedade alemã.
Em tempo: a sede do Bundesrat é bem mais modesta, embora também bonita. Fica na antiga “Câmara dos Senhores Prussianos”, em Berlim.
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